quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Ode Solar


Tu que tudo unes
Arde dentro de mim até ao fundo.
Enche o meu coração de sol, de vida e de esperança.
Sopra na minha alma o teu fogo mais perfeito
Deus, montanha, rapariga, roupa estendida ao sol
que os meus olhos vejam a tua perfeição em toda a parte
que o meu coração se encha de ti.



Como um pássaro
Uma boca
Um incêndio
o amor vencerá sobre todas as coisas.



Nas têmporas da égua que corre
na pedra que se parte no sul
no coração do ouriço que bate rente ao chão
no ouro, na prata, na cerâmica sigilata
na semente da ideia mais pura
no fim de cada canção
A palavra liberdade a arder
no coração de tudo aquilo que cai
como uma coisa que se sopra para nascer
em muitos sítios diferentes ao mesmo tempo
uma fotografia velha, o fim de uma tarde de verão
Uma ideia de esperança, um dente de leão
Tudo isso com início e com fim
material, pequeno, irredutível, sem nome e sem posse,
com a sua própria contradição, o seu caminho plural,
Tudo isso eu amo até ao fundo:
Pegadas quentes de duas lobas sobre o gelo
nomes de dois amantes numa ponte;
Respiração quente de um recém-nascido que dorme
Amor que lhe contorna a nuca,
húmidas respirações num carro de Luanda
coração desenhado no cimento,
Cadeado - símbolo de quê?
humanidade em marcha, eternidade solar
nuclear, nascente, segura,
Como uma âncora.
Tudo isso eu amo profundamente até ao fundo:
Conto sem conto, conto com conto, canção
e o alfabeto, e os números e as estações, e as cores e as formas,
Arde dentro de mim como o nascimento de uma árvore
Que agora mesmo enterra as suas raízes até ao fundo
Solar potência de cada um.
Solar nascimento e mudança de cada um.

Agora mesmo um pássaro gordo pousa em frente à porta,
e acredito na humanidade até arrebentar.


Uma menina atravessa os campos de trigo.
As espigas estremecem com o vento quente do sul.
O silêncio antigo do sol entre cada pulsação do coração.
conta um segredo de luz e espuma – ouve bem -
um ninho que guarda ovos minúsculos -
a rebentar por todos os lados,
as correntes fundas e quentes de um rio que se adentra no mar.


Tu que és montanha
e cimento e conjunto de limões,
enche-nos da tua vida pura e continua,
do teu riso, do rompimento
que cada semente traz consigo
da ressurreição de cada passo


Tu que tudo unes
Arde dentro de nós até ao fundo
Como uma coisa que se sopra para nascer
Como uma coisa com início e com fim:
Pequena. Material. Honesta.
Irredutível.
Como uma coisa que não para de nascer...


Nuno Brito.

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